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golf

 

A passos lentos de mamute, do alto do banco mais alto do 318, ex 2011, entre cavaletes de rostos de bandidos felizes esgueira-se um paraíso. O sol poente ilumina o interior daquele portão aberto, onde nem a cara fechada do segurança pode impedir meu deslumbramento. O ônibus parado me faz parar o tempo.  O que há naquelas árvores douradas, naquela grama milimetricamente aparada, naquelas campinas verdejantes teletubianas situados bem no meio do núcleo do caos? Respondo sem olhar no google mas já olhando: Gávea Golf and Country Club. São dois terços de São Conrado o que miram meus olhos pela fresta daquele portão. Detalhezinho: há 20 minutos atrás, mas há apenas 100 metros de distância -lembre-se que estou no trânsito da Barra, são 17:45 – passei pela Rocinha. Que tem a mesma quantidade de gente morando que o número de fiapos de grama desse country.

Se tivesse que explicar o que é Rio de Janeiro para um gringo, eu diria que o Rio de Janeiro é São Conrado. E acrescentaria que eu não gosto de golfe.

Andei reparando que os esportes- não sei se estou lendo Foucault demais, deve ser – carregam discursos de poder. E o do golfe não faz o meu tipo. Por que cargas d’água um cidadão, para se divertir, precisa de 600 000 metros quadrados de grama aparada e intocada; de um misto de babá e fiel escudeiro seguindo ele pra todo canto calado- no fundo sentindo raiva desse rico de merda – na superfície com um sorriso estampado esperando cem merréis de gorjeta; de um carrinho de supermercado motorizado; de  37 tacos diferentes… por quê, por quê, por quê?!

Concluo: para existir um Gávea Golf and Country Club, necessariamente deve existir uma Rocinha. Para existir um Itanhangá Golf Club, deve existir um Rio das Pedras.

Sobre Ricardo Elia

escultor de pensamento.

Uma resposta para “golf

  1. isso é que é texto com sangue correndo nas veias! gostei muito!

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